Vhoor – Resenha
Ano: 2024
Música e matemática estão diretamente associadas. Seja nas frações rítmicas ou nas estruturas de tempo, ambas as linguagens se interpenetram potencializando diferentes significados entre si. Especificamente na geometria, há um postulado que afirma que o número 3 é um valor extremamente estável, apoiado na noção de que por três pontos só pode passar um plano. Já na música, essa noção pode ser transposta observando a noção de power trio – uma das formações mais clássicas e poderosas do rock. No entanto, esta concepção de estabilidade pode transbordar para diferentes contextos, indo além do agrupamento instrumental bateria-guitarra-baixo. A mesma estabilidade pode ser observada em outros conjuntos e, na visão de VHOOR, o 3 tem apelo quase sobrenatural.
É a partir dos diferentes significados deste número e suas aplicações na arte que o produtor mineiro inaugura um novo capítulo em sua discografia, Resenha, lançado hoje. VHOOR se apoia em sua consolidada trajetória pelo funk e o miami bass, mas prova, mais uma vez, que a procura por novos caminhos e possibilidades segue firme e forte. Seu novo trabalho aponta para uma direção baseada nos trios nas artes – e, aqui, eles têm menos a ver com uma estabilidade inflexível e mais com uma estrutura sólida a partir da qual é possível criar.
As 11 faixas do registro vêm apoiadas em diferentes configurações triádicas: os três estados da água, a tríade sonora, os três macacos sábios da capa, entre outros. A partir disso, VHOOR configura um norte da experiência criativa baseado em contemplação, participação e recriação. Ou seja, não basta que um som seja referenciado como recurso de composição – é preciso que ele seja vivido e transformado, como em uma experiência dialética.
O disco parece enquadrado ao chill funk, misturando texturas suaves com a percussão marcante do batidão, mas VHOOR cria algo maior do que apenas uma aplicação de referências. Mesmo em faixas como “BH House” e “Igrejinha”, que trazem aquela atmosfera relaxante e dançante, há a experimentação. Em meio a sintetizadores mansos, surgem distorções intensas como em “Flash” e “Lançamento”, combinando e harmonizando timbres opostos. Produzida em parceria com DJ P7, “Bolha”, com vozes de MC GW, mistura potência e delicadezas que se despedaçam, em uma união entre beat bolha e o arrojo de sintetizadores imponentes e cortantes. “Escorregou” é, ao mesmo tempo, contagiante e soturna, minimalista e pintada por incontáveis detalhes que enriquecem a paisagem final. Essa abordagem, inclusive, parece ser a tônica de Resenha: uma espécie de cirurgia de singelezas, que resulta em uma massa sonora, de uma só vez, enxuta e diversificada.
Em Resenha, VHOOR se escora em uma base sólida construída durante quase 10 anos para poder voar de novas e diferentes maneiras. E faz isso abarcando opostos: a distorção e a mansuetude, o groove e a rigidez, o clássico e o contemporâneo. Há o resgate do chill baile, o tributo ao funk de BH, entre outros ecos de sua trajetória. Mas mais do que se alojar em suas referências, VHOOR segue rumando ao futuro, de olho no retrovisor e disposto a promover a bailes renovados e autênticos.
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Informação adicional
Peso | 0,500 kg |
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Dimensões | 33 × 37 × 3 cm |